quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Passando o Natal na Seita

Seu filho ou filha, parente ou amigo querido, passou a se envolver com um grupo estranho, falar em assuntos diferentes e mandou a notícia que não irá passar o Natal com a família? Entenda como os grupos sectários promovem esta separação entre o membro e seu núcleo familiar e social de origem.

O isolamento é prática fundamental de grupos exploradores. Isolar é uma forma de controlar e obter vantagem sobre a pessoa. Também é uma forma de evitar que o membro entre em contato com ideias, vínculos e modos de vida diferentes, o que significaria um risco para a seita.
Na atualidade, onde tanto se fala em liberdade, autonomia, Direitos Humanos etc, grupos isoladores precisam desenvolver formas de controle mantidas sob uma fachada de liberdade. A reclusão imposta levantaria defesas psicológicas, no membro, que passaria a ver a seita como inimiga, além de repercutir negativamente na opinião pública e perante entidades defensoras dos direitos individuais mais básicos. Portanto, estes grupos precisam incentivar que o isolamento ocorra de maneira voluntária.
Para tanto, as seitas investem nas faculdades críticas do possível membro, mas condicionando-as para o meio externo. Os aspectos criticáveis do "mundo lá fora" são enfatizados ao máximo. Como esse mundo está longe de ser perfeito, não é difícil encontrar motivos para criticá-lo. Se a crítica for absorvida com sucesso pelo membro, tenderá a criar uma primeira indisposição deste com seus círculos sociais. Ele passará a ser visto como alguém chato, incômodo, que só coloca defeito nas coisas e, consequentemente, se sentirá como alguém que não pertence àquele meio.
Junto com essa postura crítica, a seita supervaloriza as qualidades internas e apresenta, como soluções, formas de agir e de viver que reforcem os vínculos com o grupo. O mesmo membro que se sente, cada vez mais, um diferente, um incômodo para o mundo, é bem-vindo na seita, tratado como mais um para alimentar a esperança de uma sociedade melhor. Nesta manipulação - como ocorrem nas manipulações bem-sucedidas - a seita dá forças para o membro mas direciona essas forças para seus próprios interesses e contra aqueles que podem concorrer com ela.
Enquanto os familiares e amigos percebem o novo membro se tornando um "zumbi", este se percebe mais vivo do que nunca! O membro passa a fazer trabalhos novos, conhecer pessoas, ter experiências, encontrar mais sentido nos seus esforços. Vê seus parentes preocupados mas sente que estes deveriam estar felizes. Ele é o "patinho feio" que finalmente se transformou em "cisne". O gap de compreensão entre uns e outros se amplia.
É chegada a hora do Natal, a principal celebração entre famílias cristãs. Muitas seitas se identificam com o Cristianismo. Outras seitas não se identificam mas seguem os calendários e tradições oficiais do país. Outras se identificam com religiões diferentes que seguem outras cronologias. Em qualquer dos casos, a tendência é semelhante: quando o membro já está integrado à seita, ou seja, já passou da fase de um visitante para a fase de pertencimento, ele já considera a seita como a sua primeira família. Se a tradição natalina existir naquele grupo, é normal que ele prefira passar a data com o grupo. Se não houver barreiras e grandes distâncias, é possível que faça uma visita aos parentes consanguíneos mas é importante compreender o fato de que seu núcleo primário é a seita, não mais a família de sangue. Ele vive na primeira e visita a segunda, não o contrário.
Bater de frente contra isso só criará mais barreiras entre o membro e o parente que o critica. É preciso lembrar que, se a pessoa passou da fase de "namoro" (na qual visitava a seita), chegando na fase de adesão e pertencimento, ele já se sente "casado" com aquele grupo. Isto significa que é no grupo que ele encontra sustento afetivo, confiança e sentido de vida. Ele verá qualquer um que tente desviá-lo deste caminho com desconfiança e ficará na defensiva. Palavras como "só digo isso porque me preocupo com você" ou "nós te amamos e só queremos o seu bem" não terão grande peso para reverter a situação.

O que fazer,  então?


Se o grupo for saudável, que ótimo. Significa que a pessoa encontrou um lugar que lhe ajudará na busca de realização e felicidade. Não há por que se preocupar. Entretanto, se o grupo for uma "seita", disfuncional, manipuladora, as chances são grandes de que o membro carregue expectativas falsas sobre a comunidade e não tenha clareza sobre seus aspectos destrutivos.
Isso significa que o aprendizado virá "pela dor". Um dia as ilusões serão desfeitas. É impossível prever quanto tempo isso irá durar. Alguns estudiosos aceitam que a grande maioria - digamos 90% - dos membros largam uma seita antes de 2 anos de convivência. Os poucos membro que conseguem escalar alguns degraus na hierarquia, ganhando algum prestígio e respeito, duram mais. Portanto, será preciso respeitar o tempo de cada pessoa.
Esperar não significa "não fazer nada". Esperar já é fazer alguma coisa. Substituir a insistência e preocupação anteriores, sentidas pelo membro como invasivas, por uma aceitação, significa respeitar suas decisões. Significa não pressionar nem provocar interferências que levam o parente a se afastar ainda mais.
Em paralelo a esta espera, também significa muito para o membro ser compreendido. Compreender significa colocar interpretações e julgamentos de lado e partir para um interesse sincero de escuta. Se a pessoa quer participar do grupo, que tal escutar e procurar aprender sobre as coisas boas que o grupo significa para a pessoa?
Nestes dois últimos parágrafos, você já deve ter entendido que o caminho para ajudar alguém começa por uma transformação pessoal, daquele que se prontifica a ajudar. Começa por respeitar, escutar, compreender. Começa por "atrapalhar menos" ao invés de tentar "fazer alguma coisa". Começa não pela ideia de "tirar a pessoa" mas de disponibilizar-se e oferecer.
Esta abertura não requer uma falsa simpatia pela seita. Se o membro já está "viciado", pode ser que ele tente trazê-lo para o grupo. Pode ser, também, que ele tente lhe pedir dinheiro, recursos e ajudas para os projetos do grupo. Não faça isso. Deixe claro que (1) você respeita a decisão do indivíduo de estar no grupo mas (2) você não apoia o grupo nem seus trabalhos. Só entre numa seita se ela atender as suas necessidades pessoais! Nunca para agradar, nunca por insistência de alguém, nunca para se aproximar de um parente querido.
Se seu parente está em um grupo destrutivo, cedo ou tarde ele sentirá seus efeitos destrutivos. Neste momento, ele irá procurar em outros lugares por suporte, afeto, compreensão. É neste momento que ele levará em conta como estão os laços com pessoas do passado. Quando estes laços não são fortes, ele procurará formas laços novos. Muitos conseguem formar laços novos saudáveis. Outros ficam na mesma seita insuportavelmente por anos, numa espécie de limbo, com "um pé dentro e outro fora". Outros caem e novas seitas ou relacionamentos abusivos. Todos buscando as mesmas coisas: aconchego, afeto, apoio, carinho, companhia, perspectiva, ideais, identidade, sentido...

Para saber mais, conheça meu livro Seitas e Grupos Manipuladores: Aprenda a Identificá-los.

Um comentário:

  1. Quando entrei na seita dos Hare Krishna estava em busca de sentido para minha vida, e vulnerável mentalmente, triste, por ter terminado o mestrado cheio de assédios e abusos pressões psicológicas na faculdade e pós-graduação para cair em outra bem pior o controle mental, os mantras foi a tônica, eu queria controlar minha mente, não queria sofrer de ansiedade, mas já estava sofrendo com o desemprego com a cobrança em casa dos meus pais e familiares e muito cansada mentalmente, eu só vivia para ir sábado ao templo, eles me enchiam de presentes e carinhos até me adicionar em um grupo para me iniciar, mas até hoje graças a Deus não me iniciei, mesmo assim os maus tratos psicológicos a humilhação de não ter um sari (uma roupa indiana) para as cerimonias memes ofensivos dizendo que iriam me dar um tapa na cara porque não sabia cantar o mantra, desenhos com ETS dizendo que iria ser abduzida porque servia e trabalhava para eles, tirava as coisas da minha casa as frutas para ofertar para os deuses deles. Me sinto hoje com vergonha, culpa, medo e escrevo para alertar quem procurar pelo assunto façam terapia, ajuda bastante principalmente a encarar de frente tudo isso que parece tão surreal que seria melhor nem existir, o que nos deixa cada vez mais confusa por causa do vinculo afetivo, do vicio meu corpo minha mente quer ir sábado para lá ainda, mas sei o que vou encontrar por lá, quando se é mulher é muito pior além de trabalhar no serviço devocional somos controladas e ao mesmo tempo assediadas pelos visitantes que querem namoro e os líderes exigem celibato, o tempo que fui passei anos a fio sem namorar e sem trabalhar, boqueada nessas áreas da minha vida! E o pior vi as pessoas idosas voltarem para a família que foi expulsa e excluída e ainda homofobia e gordofobia rola solta nas aulas do Gita, afetou muito minha vida e quero recomeçar escrevo para me libertar.

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