Homenagem ao Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa*
Queridos irmãos,
Por 14 anos participei de uma congregação recheada de preconceitos. Eu mesmo reagiria negativamente a um texto que começasse com a frase “queridos irmãos”. Naquela época, lendo depoimentos de ex-religiosos desiludidos com suas igrejas, eu pensava: “Como eles foram cair nesse conto de fadas?”
Mas enquanto eu pensava isso, eu caía no meu próprio conto de fadas! Me envolvi com uma tal de “Conscienciologia”. Um grupo espiritualista de linha meio "New Age", com misturas de Espiritismo e Psicologia popular de auto-ajuda. Eu tinha concluído o Ensino Médio e estava buscando conhecer coisas novas. Passei a interessar-me por esse tal de “autoconhecimento” que não se via nas apostilas da escola. E acho que, apesar das diferenças, trilhei um caminho parecido com o dos relatos que leio aqui no site extj.net.
Fui muito bem recebido pelo grupo de "Conscienciologia". Quando viram que eu os escutava e entendia, passaram a tratar-me como uma pessoa com potencial. Um possível “escolhido”. Quando viram meu gosto pelos estudos, passaram a me ver de modo especial.
Para um jovem introvertido, meio nerd, não muito popular na escola, a sorte finalmente sorria para mim. Fui trilhando rapidamente os degraus do grupo e alcançando posições mais prestigiadas. No início eu distribuía panfletos e procurava trazer pessoas para as aulas, mas em pouco tempo já estava escrevendo textos, conduzindo pequenas reuniões, coordenando atividades de maior responsabilidade e dando aulas. Bem ajustado e elogiado pelo grupo, meu próximo passo era, naturalmente, me mudar da cidade de origem – Florianópolis (SC) – para Foz do Iguaçu (PR), onde estava a sede das atividades do grupo.
Por 14 anos participei de uma congregação recheada de preconceitos. Eu mesmo reagiria negativamente a um texto que começasse com a frase “queridos irmãos”. Naquela época, lendo depoimentos de ex-religiosos desiludidos com suas igrejas, eu pensava: “Como eles foram cair nesse conto de fadas?”
Mas enquanto eu pensava isso, eu caía no meu próprio conto de fadas! Me envolvi com uma tal de “Conscienciologia”. Um grupo espiritualista de linha meio "New Age", com misturas de Espiritismo e Psicologia popular de auto-ajuda. Eu tinha concluído o Ensino Médio e estava buscando conhecer coisas novas. Passei a interessar-me por esse tal de “autoconhecimento” que não se via nas apostilas da escola. E acho que, apesar das diferenças, trilhei um caminho parecido com o dos relatos que leio aqui no site extj.net.
Fui muito bem recebido pelo grupo de "Conscienciologia". Quando viram que eu os escutava e entendia, passaram a tratar-me como uma pessoa com potencial. Um possível “escolhido”. Quando viram meu gosto pelos estudos, passaram a me ver de modo especial.
Para um jovem introvertido, meio nerd, não muito popular na escola, a sorte finalmente sorria para mim. Fui trilhando rapidamente os degraus do grupo e alcançando posições mais prestigiadas. No início eu distribuía panfletos e procurava trazer pessoas para as aulas, mas em pouco tempo já estava escrevendo textos, conduzindo pequenas reuniões, coordenando atividades de maior responsabilidade e dando aulas. Bem ajustado e elogiado pelo grupo, meu próximo passo era, naturalmente, me mudar da cidade de origem – Florianópolis (SC) – para Foz do Iguaçu (PR), onde estava a sede das atividades do grupo.
Naquela
época, o “mundo lá fora” já quase não me interessava. Meu grupo não
proíbe namoro com pessoas de fora, mas você acaba não querendo.
Imaginem, eu sempre ocupado em reuniões e atividades de fins-de-semana,
além de fazer minhas “meditações” diárias, já não gostando de sair à
noite e achando as coisas mundanas muito se graça. É claro que
procuraria namorar garotas da própria comunidade, que me entenderiam
melhor. Sem falar nas diferenças de ideias, atitudes e linguagem.
Dificilmente uma menina “normal” teria muita paciência para aguentar um
“discípulo” que doou a vida para uma causa tão exótica que nem eu. O
mesmo vale para os estudos e a profissão. Eu tinha que cuidar do meu
trabalho para me sustentar. Mas cuidava o mínimo necessário. No resto do
tempo, me dedicava à causa da Conscienciologia. Foi assim que, pelos
anos mais importantes para a carreira de uma pessoa, negligenciei minha
formação acadêmica e profissional.
Mas
eu estava feliz, gostando do que fazia e seguindo minha “missão de
vida”. Eu estava tão confiante que comecei a tomar iniciativas mais
ousadas. Não tinha entendido que esperavam que eu fosse apenas uma
“minipeça” (como eles falam), dentro do “mecanismo” do grupo. Passei a
sair de funções administrativas para poder estudar mais a doutrina. Isso
irritou 2 ou 3 líderes. Em seguida, passei a procurar, por conta
própria, programas de rádio, colunas de jornal e páginas da internet
para divulgar meus estudos. Isso irritou ainda mais esses líderes, que
gostariam de fazer o mesmo, mas estavam atolados com o trabalho
burocrático. Em seguida, propus publicar um livro pela editora do grupo.
E então, os líderes que estavam de fora, ficaram extremamente
indignados. Impediram que a editora trabalhasse no livro, o que apenas
me levou a publicá-lo de maneira independente. Mas foi minha sentença de
morte para o grupo.
Eu
sabia que isso desagradaria a estes poucos, apenas não imaginava que
sua reação fosse tão desequilibrada e extremista e muito menos imaginava
que o restante das centenas ou milhares de membros simplesmente
assistissem e acatassem. Foi minha grande decepção. Me esforcei tanto,
para acabar por descobrir que estava em um rebanho de ovelhas, que
simplesmente seguem o pastor, não importa em qual direção.
Quem
dera fosse apenas uma decepção! Em seguida foi a hora de sentir na pele
o ostracismo social. Os colegas de negócios e clientes ligados ao grupo
voltaram as costas (sou formado em Economia e também estava iniciando
um pequeno negócio na área de construção ecológica). Infinitas graças a
Deus que eu trabalhava para um escritório que não estava ligado a esse
grupo, ou também estaria no olho da rua, sem nenhuma reserva financeira,
numa cidade relativamente pequena, onde meus contatos não queriam mais
se envolver comigo e difundiam maldades pela internet para seus colegas
do Brasil inteiro.
Me
surpreendeu esse estilo de punição do grupo. Silenciar, abandonar e
eliminar o ex-membro de toda forma possível. Uma espécie de assassinato
simbólico. Passei o ano de 2012 ruminando todo tipo de sentimento a
respeito disso. Foi quando, acidentalmente, lendo um artigo na internet,
descobri que não estava sozinho. Encontrei um depoimento de um
ex-Mórmon norte-americano relatando o mesmo. Navegando mais, encontrei
as mesmas coisas faladas por ex-membros de outros grupos: Cientologia,
Moonies, Hare Krishna… no Brasil, relatos de ex-pastores evangélicos,
membros da Gnose e, por fim, os fóruns de ex-Testemunhas de Jeová.*
Pensei que era único, só que não! Sou apenas um entre tantos semelhantes que se envolveram com grupos “oito ou oitenta”. "Oitenta" no exagero sobre a sua própria superioridade. "Oito" na forma como vêem os de fora. "Oitenta" na forma de inflarem o ego do simpatizante. "Oito" na forma ingrata de tratarem os que se afastam. É no extremismo que esses grupos se revelam intolerantes.
Qual a fábula em que caí? Não
é a fábula das verdades do meu grupo! Se um grupo defende que a Terra é
plana, quadrada ou redonda, isso pouco importa. Tudo isso pode ser
corrigido se o grupo não estiver envolvido na "fábula da intolerância".
Sim!
É a fábula de quem, para se defender, se considera especial, acima dos
“humanos comuns”, “apóstatas”, “ignorantes” e que não estão qualificados
para o diálogo. É a mesma fábula que envolve namorados imaturos: enquanto estão juntos, são “tesouros”; após a separação, são “lixo”.
É a fábula do “bom ou mau”, de quem não tolera ver a complexidade das coisas, precisando encaixar tudo rapidamente em apenas duas categorias extremas: se está comigo, é bom; se não está mais, é mau. Em resumo, é um simplismo extremista e imediatista, que se defende do diferente, tentando destruí-lo.
É
com estas palavras que encerro meu testemunho, minha “confissão”, de
quem um dia se considerou tão diferente e hoje se considera tão
semelhante. Eu pensava ser diferente por causa das minhas crenças, como
quem pensa que é diferente por causa da roupa que veste.
Hoje
me vejo muito semelhante, por causa da minha história em comum. Por
isso bati à vossa porta para dizer que estou com vocês na luta contra a
intolerância.
Pois se minhas crenças me fazem brigar com os outros, elas de nada servem!
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