Seita é uma palavra que precisa ser tratada com cautela. Precisamos estar cientes das vantagens e desvantagens do seu uso.
1. Um pouco de História…
A palavra seita foi ganhando sentido pejorativo ao longo da História. Hoje ela não significa mais o que significava antigamente. De origem latina, o termo nasceu para designar (1) "secções", divisões, partições, cisões que ocorriam em algum grupo ou, também, (2) "séquitos", grupos que se reuníam para seguir determinado líder. Nenhum desses fenômenos grupais é necessariamente ruim. Subgrupos têm pleno direito de se separarem de um grupo maior; é um processo normal em qualquer dinâmica social. E pessoas têm pleno direito de se reunírem em torno de uma liderança.
Cena de Eyes Wide Shut (1999) |
Conforme grupos dominantes faziam propaganda negativa dos subgrupos, criou-se a ideia de seita era uma palavra ruim, para manchar os pequenos grupos "concorrentes" no imaginário das pessoas. Seitas passaram a ser retratadas como adoradoras de coisas estranhas, realizadoras de rituais macabros, manipuladoras de mentes etc. A propaganda surtiu efeito e a palavra seita passou a ser usada não para descrever os grupos, mas como xingamento. Dizer que grupo x ou y é uma seita passou a ser forma de dizer que o grupo era mau, malévolo, manipulador. A palavra seita, que nasceu para ser um conceito, passou a ser usada pelo senso comum como um PREconceito.
Acontece que essas "seitas" também eram um fenômeno interessante para pesquisadores e estudiosos. Por exemplo, os sociólogos alemães Max Weber (1864-1920) e Ernst Troeltsch (1865-1923) dedicaram-se ao estudo da liderança carismática e das diferenças entre religiões, denominações e seitas. Nenhum desses autores usava seita como uma palavra pejorativa. Seu interesse era nestes pequenos grupos que surgiam como alternativa a religiões oficiais. Suas ideias serviram de base para os cultic studies (estudos de seitas) na Psicologia Social e nas Ciências da Religião.
Posteriormente, uso do termo se tornou controverso entre pesquisadores. Por um lado, era um termo necessária, inevitável, que remontava a toda uma história de pesquisa sobre fenômenos sociais e religiosos. Por outro, era inevitável que o termo fosse associado à noção pejorativa disseminada pelo conhecimento popular. Esta controvérsia permanece de pé até hoje.
Posteriormente, uso do termo se tornou controverso entre pesquisadores. Por um lado, era um termo necessária, inevitável, que remontava a toda uma história de pesquisa sobre fenômenos sociais e religiosos. Por outro, era inevitável que o termo fosse associado à noção pejorativa disseminada pelo conhecimento popular. Esta controvérsia permanece de pé até hoje.
2. Qual o termo apropriado?
A resposta para essa pergunta dependerá muito do contexto em que a comunicação ocorre.
No universo acadêmico, a discussão levou muitos pesquisadores a adotarem terminologias diferentes do que simplesmente "seita". Alguns passaram a fazer a diferenciação entre seitas destrutivas e não destrutivas. Outros termos passaram a ser usados, a depender da necessidade e do viés do estudo, por exemplo: grupos abusivos, grupos de alta-demanda, grupos manipuladores, grupos coercitivos etc. No Brasil, a tradição de pesquisa sobre as seitas é pequena mas alguma coisa pode ser encontrada nos estudos das comunidades de vida ou comunidades de pertencimento.
Nos meios populares, o escritor fica em um dilema. Seita é uma palavra funcional, curta e didática. Uma pessoa que tenha sido vítima de manipulação no grupo "tal" vai procurar textos e terapeutas que falem "de seitas". É um termo que faz parte do vocabulário popular de quem enfrenta o fenômeno de abuso e manipulação grupal, sendo inevitável usá-lo.
Importa, então, esclarecer para que as pessoas não caiam na tentação dos rótulos. Como escritor, meu conselho é que o termo seita seja usado como ponto de partida, não como ponto de chegada. Deve ser uma "isca" para chamarmos o leitor interessado e explicarmos como funciona o processo de manipulação, exploração e codependência em grupos. Não deve ser a "palavra mágica" com a qual vamos rotulando grupos e dizendo "fique longe desse", "fique perto desse". Esta última é uma falsa solução, pois não educa, não ensina e, por mais que se fique longe de um grupo, laços destrutivos semelhantes podem ser formados em outros grupos, até mesmo relacionamentos profissionais, familiares ou afetivos.
Importa, então, esclarecer para que as pessoas não caiam na tentação dos rótulos. Como escritor, meu conselho é que o termo seita seja usado como ponto de partida, não como ponto de chegada. Deve ser uma "isca" para chamarmos o leitor interessado e explicarmos como funciona o processo de manipulação, exploração e codependência em grupos. Não deve ser a "palavra mágica" com a qual vamos rotulando grupos e dizendo "fique longe desse", "fique perto desse". Esta última é uma falsa solução, pois não educa, não ensina e, por mais que se fique longe de um grupo, laços destrutivos semelhantes podem ser formados em outros grupos, até mesmo relacionamentos profissionais, familiares ou afetivos.
Para saber mais sobre as seitas, conheça meu livro Seitas e Grupos Manipuladores: aprenda a identificá-los.
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