quarta-feira, 28 de junho de 2017

Quais são as seitas existentes?

É comum encontrarmos pessoas perguntando e textos respondendo "quais são as seitas existentes". Esta pergunta é uma armadilha. Vou explicar por quê:

Panfleto cristão apontando "seitas e falsas religiões"
1. Ela se preocupa em apontar grupos. Ao buscar isso, você está sujeito à manipulação de quem lhe responder. Muitos grupos tentam difamar seus concorrentes e muitas pessoas, por preconceito ou desinformação, também divulgam erros e formam estereótipos enganosos sobre grupos impopulares. 

2.  Ela se esquece do mais importante: compreender como funciona uma relação destrutiva. Ela transmite a falsa impressão de que basta manter a distância de certos grupos que se está livre das relações destrutivas sectárias. Isso é uma ilusão. Relações de manipulação estão sujeitas a acontecerem em todo lugar. O que há de instrutivo em se estudar as seitas é aprender a identificar grupos onde a manipulação é estruturante, ampliando o entendimento desse tipo de relação destrutiva. Se você conhece como funciona a manipulação, tem mais chances de evitá-la seja dentro ou fora das seitas. Mas se você simplesmente se baseia em listas de que grupos evitar, nada o impede de ser manipulado por grupos que estejam fora da lista.

3. Grupos existem aos milhares. É impossível listar todos os grupos existentes. Humanos são seres sociais e, por isso, estão a toda hora formando e dissolvendo grupos, dos mais diversos. Onde quer que haja duas pessoas, é possível formar-se um grupo. E onde quer que haja um grupo, é possível com o tempo desenvolver-se uma relação destrutiva como a das seitas. Portanto, essa relação pode se formar em um grupo internacional, tradicional, centenário mas, também, em círculos restritos, dentro de famílias, empresas ou até entre um casal de namorados. Em inglês existe a expressão one-to-one cult, algo como a "seita de um para um". É impossível englobar toda essa dinâmica em uma lista estática.

4. As relações não são iguais dentro de um mesmo grupo. Grupos grandes não são homogêneos. Por exemplo, em um grupo disperso geograficamente, podem se formar relações diferentes, saudáveis ou destrutivas, em regiões diferentes. É possível que um superior hierárquico mantenha uma relação destrutiva com certos liderados mas uma relação harmônica com outros.

5. Grupos se transformam ao longo do tempo. Um grupo pode nascer de maneira sudável mas desenvolver uma dinâmica destrutiva com o passar do tempo. Ou pode ser destrutivo mas se tornar flexível, conforme os membros se conscientizam e lideranças vão sendo destituídas.

6. Existem "seitas e seitas". A destrutividade varia conforme o grupo. Alguns são mais flexíveis, outros mais nocivos. Depois de conhecer o assunto, você poderá perceber que algumas seitas são quase inofensivas. Embora dê uma certa pena observar a devoção um pouco exagerada de alguns membros, ela não passará disso - uma "perda de tempo" em que pessoas caem quando estão meio deslumbradas. No outro extremo, há seitas vampirizadoras dos esforços e recursos dos seus membros, seitas que promovem o isolamento social, o medo, a exploração econômica e o abuso psíquico, gerando danos graves à vida do membro. Além do mais, essa destrutividade varia conforme se move da periferia para o centro do grupo. Ou seja, um visitante eventual pode não sofrer os males da seita, mas seus discípulos envolvidos "até o pescoço" com o grupo, sim.
E você, tem dúvida ou gostaria de compartilhar informações sobre um grupo específico? Envie nos comentários ou para flavio.ferreira.amaral@gmail.com

Imagem: William Powell.

Para saber mais, conheça meu livro Seitas e Grupos Manipuladores: Aprenda a Identificá-los. 

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