De maneira didática, o envolvimento sectário pode ser comparado ao problema da dependência de drogas. Nas drogas, importa conhecer como estas substâncias funcionam (o efeito que produzem, a intensidade do vício, os danos psicofisiológicos) e os meios pelos quais elas se fazem disponíveis (as redes e a logística de tráfico e sua comercialização). Mas é fundamental conhecer como funciona o contato inicial do usuário com a droga. Quais características do indivíduo o levam a aceitar ou recusar, procurar ou evitar certa substância? O que o leva a desistir da substância ou persistir no consumo após a primeira experimentação? Quais contextos existenciais são mais predisponentes ao contato com a droga? Os mesmos questionamentos podem ser feitos com relação às seitas.
Talvez, toda pessoa tenha um ponto de não-retorno, a partir do qual se torna dependente e escrava da droga. Mas antes disso, importa muito conhecer estas diferenças individuais e contextuais.
Tanto no vício como no sectarismo, há um sujeito que colocou algo (a droga ou a seita) no centro principal da sua vida, que lhe proporciona um ganho imediato, a um preço no médio prazo. O ganho gira em torno da redução do sofrimento que se manifesta em sua ausência. O preço é o da submissão ao objeto do vício, levando ao desinteresse por outros envolvimentos e consequente colapso de suas relações alternativas. Tal dependência poderia não se desenvolver caso o sujeito utilizasse (ou tivesse ao alcance) outros meios de lidar com a situação provocadora do sofrimento.
À diferença da droga, que pode ser claramente ilegal e publicamente
condenada, a seita é uma espécie de narcótico disfarçado de alimento, um
grupo destrutivo com cara de grupo benevolente. Como as drogas, as
seitas atingem sociedades como a atual, caótica, insolidária,
desumanizada, comodificada, mercantilizada, estressante, insegura, com
laços familiares e comunitários enfraquecidos e baixa credibilidade às
ideologias ou instituições clássicas, que promoviam coesão social e
esperança. Funcionam como um refúgio e alternativa aos indivíduos menos
adaptados (ou mais descontentes) com a vida “normal”, refúgio que os
levará a perceber diferentemente o “mundo real” e gradualmente cortar os
vínculos com este. Indivíduos menos estruturados para lidar com as
próprias ansiedades, dificuldades e frustrações, ou cumprir as
exigências externas, acabam fazendo parte do “grupo de risco”.


A riqueza de estímulos e gratificações saudáveis diversificadas fortalece o indivíduo para que não precise procurar nas drogas (e nas seitas) a compensação que precisa para manter seu bem-estar. Se experimentar, dificilmente não irá gostar ou dar continuidade. Pois é com a falta destes estímulos gratificantes que qualquer nova experiência (proporcionada por uma atividade sectária ou um “barato” psicológico) tem efeito extraordinário e impactante.
Para saber mais, leia meu livro Seitas e Grupos Manipuladores: Aprenda a Identificá-los.
Flavio, por uma porção de dopamina muitos se tornam dependentes da droga servida pelo outro. Seja ela uma interpretação, um uma bela palestra feita por quem domina uma boa oratória. São mestres em formar mentes submissas. Tomemos como exemplo os discursos de Hitler que inflavam as mentes daqueles que o seguiam.
ResponderExcluirPena as pessoas não levarem a sério esse real problema.
Sobre a dopamina, eu retirei do livro do Michael Schermer.
Abraço.
Pois é... quem dera nosso único vício fosse nas drogas. Obrigado pela referência! Abraço :-)
Excluir